Reflexões em diário de bordo da visita ao Haiti
Por Fernanda Quevedo
Na incansável missão, MV Bill e Celso Athayde relatam sobre os jovens e a influência (ou a falta de influencia) do Rap, naquele país. Athayde, que é criador do maior e mais importante Prêmio de Hip Hop da América Latina, o Hutuz, destaca que, grande parte dos jovens haitianos apreciam o Rap, e cantam Hip Hop em Crioule, a língua nativa da favela Citei Solei e em francês que é a língua oficial. Além disso, questiona o Rap Americano. Celso também tece comentários acerca da missão de Paz do Exercito Brasileiro naquele país.
Confira na íntegra o que Celso Athayde disse, em seu diário de bordo:
Sobre os jovens
Apesar de viverem no berço da mais completa miséria, de olharem para o futuro e não conseguir ver muita coisa , os jovens existem e se apegam em sua totalidade ao rap, no Hip Hop com sotaque crioule, língua da ilha, além do francês que é a língua oficial. Resta-nos agora saber se o rap americano vai dar para esses jovens alguma consciência e realizações, além do conhecido protesto.
Engana-se quem pensa que estes jovens estavam assistindo a final do mundial de futebol, esporte que eles amam. Estavam sim, assistindo a um vídeo de Hip Hop americano. Ao avistar os jovens reunidos, Bill se juntou a eles para ver do que se tratava, e então estava lá, o Hip Hop mostrando que pode ser uma forma importante de mobilização.
Sobre as tropas do Exercito Brasileiro
Confesso que eu sempre fiz criticas ao que eu chamava de ocupação das tropas brasileiras no Haiti, mas ao conhecê-las, as críticas se tornaram ingênuas e infantis. Não se trata de uma ocupação, mas de uma Forca de Paz, que tem o objetivo de estabelecer a ordem pública no país a pedido do próprio Governo Haitiano, e agora sei que muitos outros países estão nesta missão a convite da ONU.
Mas eu tenho mesmo mania ou até o desejo de criticar, e se a ONU não entrasse para fazer esse trabalho eu certamente a acusaria de estar virando as costas para o conflito no Haiti só porque só tem pretos lá, e chamaria a ONU de racista.
Não tem jeito, ou o Brasil se desliga da ONU ou vai estar sempre propensa a fazer trabalhos com ela, o que é o caso.
Na foto que esta abaixo, resolvemos ir com a mesma tropa para conhecer a noite da favela mais violenta de Porto Príncipe. Juntamos aos soldados que fazem todas as noites patrulhas para mostrar que estão presentes. A miséria do lugar é tão grande que tudo vale muito dinheiro. Por exemplo, a existência das gangues tinham o objetivo de explorar os miseráveis, cobrando pedágios em todos os serviços para a comunidade como água. As gangues então, se apoderavam desses benefícios do Estado e acabavam não chegando a população.
Portanto passei a entender que as armas do exército realmente teriam que existir, do contrário não existiria forma de fazer uma pacificação eficiente.
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